A HISTÓRIA DO 1° DE MAIO

(Ernesto Germano Parés)

 

         O século XIX marcou a grande arrancada do sistema capitalista e o grau de exploração sobre os trabalhadores atingia uma violência inigualável. A “Revolução Industrial”, o surgimento das primeiras máquinas e o aparecimento das fábricas levavam milhões de seres humanos a uma situação de extrema submissão ao capital.

         Era comum o trabalho de crianças, mulheres grávidas e trabalhadores em jornadas que duravam até 18 horas sem interrupção!

         Os primeiros movimentos pela redução da jornada de trabalho começaram na Inglaterra, ainda na década de 20 do século XIX, e foram se espalhando pela Europa. Posteriormente chegaram aos EUA e Austrália.

         Em 1886, em Chicago, os operários estadunidenses que já haviam acumulado várias mobilizações pela redução da jornada para 8 horas diárias resolveram que estava na hora de começar as grandes ações que atingissem o patrão e o Estado. Em 1° de maio de 1886 teve início a Greve Geral que contou com a adesão de mais de um milhão de trabalhadores em todo o país.

         Isto incomodou muito e os patrões resolveram usar todos os artifícios para impedir que a Greve se ampliasse ainda mais. A repressão, já no primeiro dia, foi violenta e não poupava ninguém. Centenas de trabalhadores foram espancados e presos, mas o movimento ganhava mais força. No dia dois, uma grande passeata tomou conta das ruas de Chicago e os trabalhadores carregavam cartazes e faixas reivindicando a jornada de 8 horas.

         A polícia não dormiu. A repressão se tornou ainda mais violenta e, no dia quatro, quando estava marcada uma grande assembléia na Praça Haymarket, uma bomba explodiu no meio da multidão matando dezenas de trabalhadores e ferindo mais de 200 pessoas, inclusive alguns policiais. 

         Oito líderes do movimento foram presos, acusados de haver provocado o tumulto, e julgados: Alberto Parson, tipógrafo (39 anos); August Spies, tipógrafo (32 anos); Adolf Fischer, tipógrafo (31 anos); George Engels, tipógrafo (51 anos); Ludwig Lingg, carpinteiro (23 anos); Michael Schwab, encadernador (34 anos); Samuel Fielden, operário têxtil (39 anos); Oscar Neeb, (?). Os quatro primeiros foram condenados à morte e enforcados no dia 11 de novembro de 1887. Os demais à prisão perpétua. Ludwig Lingg suicidou-se na cadeia.

         A luta dos trabalhadores nos EUA, no entanto, não parou aí. Centenas de outros movimentos ocorreram e, em 1890, o Congresso dos EUA votava a Lei que estabelecia a jornada de 8 horas diárias.

         Em 1893, a Justiça reabriu o processo contra os oito operários e ficou comprovado que todas as provas apresentadas durante o julgamento haviam sido forjadas e que a bomba havia sido colocada pela própria polícia para incriminar os manifestantes. Foi reconhecida a inocência dos condenados e os três operários que ainda estavam na cadeia foram libertados.

         Nos EUA, até hoje, não se comemora o 1° de Maio. EUA, Canadá e Austrália são os únicos países que não comemoram esta data.

 

As comemorações do 1° de Maio

         Em 1889, reunidos em Londres, representantes de centenas de entidades de trabalhadores aprovaram uma resolução: que em todos os países, em todas as cidades, os trabalhadores lutem pela redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias e que se consagrasse o 1° de maio de cada ano a esta luta (em memória do ocorrido no 1° de maio de 1886, em Chicago).

 

No Brasil

 

         1894 - em Santos, no 1° de Maio, o Centro Socialista realiza palestra e debate. Alguns autores consideram a primeira comemoração da data, no Brasil.

 

         1894 - em São Paulo, a polícia invade uma casa onde 9 operários italianos e alguns brasileiros planejavam a primeira comemoração do 1° de maio no Brasil

 

         1900 - em 25/09, fundado em São José do Rio Pardo (SP) o “Clube Democrático Socialista Os Filhos do Trabalho”. O manifesto do Clube para o 1° de maio de 1901 foi escrito pelo socialista Euclides da Cunha que dizia ser necessária “a reabilitação do proletariado, pela exata distribuição da justiça, cuja fórmula suprema consiste em dar a cada um o que cada um merece, abolindo-se os privilégios quer de nascimento, quer de fortuna, quer da força.”

 

         1906 - o 1° de maio foi comemorado em várias cidades. Em São Paulo, o Sindicato dos Gráficos uniu-se a outros sindicatos para realizar apresentações teatrais, em vários salas de espetáculo da cidade. No Rio de Janeiro houve comemoração em praça pública. Em Santos houve comemoração, mesmo com uma violenta repressão enviada pelo governo (navios de guerra ancoraram no porto para intimidar). Em Campinas, surgiu o primeiro número do jornal A Voz Operária.

 

         1907 - o 1° de maio foi comemorado em todas as grandes cidades brasileiras e marca o início da luta pela jornada de 8 horas em nosso país.

 

         1909 - o número 10 do jornal “A Voz do Trabalhador” (1° de maio de 1909) publicava, pela primeira vez no Brasil, a letra do hino A INTERNACIONAL, composto por Pierre Degeyter e Eugène Pottier, em 1871, e que já virara o hino das comemorações do 1° de maio na Europa (junto com a bandeira vermelha usada pelos operários de Paris).

 

         É a partir dos primeiros anos da década de 40 que o governo passa a assumir as comemorações do 1° de maio e a transformar o dia de luta (pela jornada de 8 horas diárias de trabalho e de outras resistências para os trabalhadores) em festas com futebol de graça, shows com artistas e bailes para desviar o sentido das comemorações. O “Dia Internacional de Luta da Classe Trabalhadora” passou a ser usado para iludir o próprio trabalhador.

 

         Quando os metalúrgicos do ABC entram em greve, em abril de 1980, o movimento já tinha algo de diferente, antes mesmo de começar. O adesivo que convocava para a Assembléia era claro: “Chegou a hora! Vamos matar nossa sede.” Por seu lado, o governo anunciava sua determinação de reprimir e lembrava que o sindicato já sofrera intervenção em 1979.

 

         A Assembléia do dia 30 de março, um domingo, votou pela greve. O movimento começou e todos sabiam que seria longo e difícil. Um Comitê de Solidariedade foi criado e contava com setores da Igreja católica, associações de moradores e setores da esquerda. No dia 17 de abril, às 18:30 hs, o Ministro assina o decreto determinando a intervenção no Sindicato e afastando a diretoria. No dia seguinte, helicópteros do exército sobrevoavam São Bernardo enquanto tropas da Polícia Militar, com carros “brucutus” e policiais da temida ROTA cercavam o Sindicato.

 

         Do outro lado, o movimento ia crescendo e conquistando todo o descontentamento popular contra o regime. A Associação Brasileira de Imprensa, a Ordem dos Advogados do Brasil, a Comissão de Justiça e Paz e centenas de outras entidades e organizações passam a apoiar e mostrar adesão a uma greve iniciada pelos peões do ABC.

 

         O 1° de Maio foi comemorado em São Bernardo, por lideranças de todo o país, mesmo com a sede do Sindicato fechada e sob intervenção. A greve continuava!

 

         1989 – Em Volta Redonda, no dia 1º de Maio os metalúrgicos da Companhia Siderúrgica Nacional inauguram o “Memorial 9 de Novembro”, em homenagem aos três trabalhadores assassinados pelo exército na greve de 1988: William, Valmir e Barroso. (vejam sobre a história da greve de 1988 em documento nesta página)

 

         Mas o “Memorial” ficou poucas horas de pé. Inaugurado com muita festa na tarde do dia 1º, foi explodido “por desconhecidos” na madrugada do dia 2!

 

         Reconstruído pelos metalúrgicos, o “Memorial” está ainda de pé, com as marcas da violência, mas nunca se soube que colocou os explosivos que o derrubaram!